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RELATOS DE EXPERIÊNCIA

Ao iniciar a leitura de ‘Teatro Decomposto ou O Homem-Lixo” de Matéi Visniec, automaticamente me interessei pelo texto ‘O Comedor de Carne’ e fiz diversas interpretações àquele texto. O que predomina na minha cena é a necessidade de se ter um corpo livre independente da carne dele, fiz algumas alterações no texto, tirando ele da íntegra e acrescentando alguns diálogos que acreditei ser importante para a estética que me propus.

A filmagem foi realizada dentro do meu quarto, desliguei as luzes e usei somente uma lâmpada com extensão ligada na tomada. O vídeo inteiro é mostrando algumas partes do meu corpo, sem aparecer o rosto em nenhum momento, pois a ideia era focar em padrões impostos pela sociedade de o que viria a ser um corpo perfeito. O figurino, também pensando nisso, foi um short curto preto e um sutiã também preto, tentando ter o menos informações possíveis, pois o texto em si já um grande protagonista.

Tentei fazer alguns ajustes no som da cena, que no caso, sou eu recitando o texto. Em dada parte, quando é dito: “provar do que tanto me corrói, engolir o que tanto me desgasta” edito essa parte para repetir algumas vezes, de um modo que considerei perturbador enquanto a cena desenvolvia-se em um modo rebobinado de imagens que já haviam sido mostradas. 

Optei por um efeito que me lembrou muito o reflexo do espelho, algumas vezes parecia que quando algum movimento acontecia, a parte do corpo que o fez ainda continuava no mesmo lugar, porém editei de modo que isso aparecesse muito levemente e não comprometesse o espectador que estivesse assistindo. A cena também tem um forte apelo para cor vermelha, pensando na carne que é tanta falada durante o texto (e também usada em uma parte da cena) e principalmente pensando no que somos capazes de fazer com o nosso próprio corpo quando o rejeitamos. 

An        Val
dressa   paços
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Ar          Fer
tur           reira

Durante a disciplina de Montagem Teatral a turma se propôs a experimentar possibilidades de criação com elementos da teatralidade em meio ao caos pandêmico e pandemoniaco que nos atravessa nesse momento. Permeados por pequenas poças de inquietações, impossibilidades e saudades do evento teatral de corpo presente como já conhecemos o processo seguiu os rumos que os espaços e o tempo apertado dos cronogramas institucionais oferecem. Cada um em sua casa e “cada um com seus problemas”, tivemos todos iminentemente que nos virar com o que temos a disposição em um processo de criação que na maior parte do tempo foi isolado embora se interligue por meandros precários das não-possibilidades. O adjetivo que melhor caracteriza esse tipo de conjunto parece ser: fragmentado. 

Nesse contexto é que nos encontramos com a dramaturgia de Matei Visniec.  “O teatro decomposto ou o homem-lixo”. Um texto como um espelho quebrado em mil e estilhaços espalhados. Essa é a imagem que parece melhor descrever a maneira como a obra se constrói, ao menos esse é o sentido que é explorado de maneira instável e fractal. Exatamente como um espelho quebrado. O texto foi basicamente o principal disparador e o trabalho com este foi desenvolvido por cada pessoa do elenco da maneira que mais lhe interessou ou da que lhe foi viável.

Não houve propriamente uma direção, essa função parece também se fragmentar em meio ao processo que acontece na instabilidade do momento da crise sanitária, política e econômica que nos persegue. Parece justo dizer também, tampouco houve proposta delineada para a iluminação, sonoplastia ou cenografia. O texto e os fragmentos que foram sendo produzidos contaminaram-se mutuamente de forma não muito controlada ou orientada. Em particular acredito que a calamidade seja nossa guia para a junção desses cacos-cênicos.

Assim, a cena do homem no círculo diz muito sobre o isolamento e a eliminação cis-têmica das alteridades. Se fechar no círculo pode ser uma busca pela paz, pela anulação do confronto. Isto também não anula a humanidade do humano?  A busca neste vídeo é pela contaminação desses círculos num espelho fractal aberto e exposto na precariedade em que consegue existir.

O ponto de partida da minha cena foi o fragmento do texto: "Teatro decomposto" de Matei Visniec, o qual eu prefiro chamar de experimento teatral em processo. A gente gosta de fazer teatro de pertinho para no final poder se abraçar, mas não era possível nesse momento de distanciamento social. Entre fazer ou não fazer a cena, preferi fazer... Sem recursos, sem iluminação apropriada, um celular e muito medo. Isso! Medo do desconhecido. Tive autonomia e liberdade em absoluto para usar e abusar da imaginação e tentei ao máximo usar a criatividade, mas sempre sentindo falta de alguém que me orientasse, que me guiasse. A partir da leitura do texto sempre vinha na minha imaginação, muitas imagens e vozes que me despertavam o interesse de encenar. Não havia muitas ações físicas, aliás quase nenhuma, então fui transpondo a ideia abstrata da personagem para materialidade concreta da cena, compondo aos poucos essa outra pessoa. O que será visto é teatro? Sei lá! Só sei que a gente vai se reinventando, se adaptando e descobrindo novas possibilidades e o que importa é poder experienciar essa nova realidade que é o que temos. É o nosso hoje! Tempo de reinvenção...Foi desafiador, mas muito, muito estimulante.

Di         Ben
nah          se
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Ia          Mir
go           anda

A experiência em fazer uma apresentação na modalidade online, de fato é algo único, não sei dizer exatamente se desgosto, pois o trabalho ainda é bom, mas acredito que seja solitário. A questão que permeou na minha criação foi a solidão de estar produzindo sonho, em fazer o jogo das câmeras, em tentar acertar nas atuações sem nenhuma interferência direta, ou alguém próximo durante a criação para a troca de ideias. Também se fez a barreira de muitas possibilidades, já que o trabalho estava sendo feito sozinho, muitas das ideias como câmeras que se movem junto da ação tiveram de ser abandonadas desde o princípio.
Vendo que minhas primeiras tentativas de gravação não estavam funcionando na opinião do grupo, escolhi então me aproveitar do sentimento de solidão para compor a cena, que no texto retrata uma personagem que vive sozinha reparando maquinas que coletam cadáveres, antes de soldados e agora de suicidas. O texto foi adaptado por mim, pois no original as máquinas realmente só trabalhavam no período da guerra, mas na minha proposta, escolhi esticar como se o tempo tivesse passado pelo menos 10 anos após a guerra que o texto fala. A inspiração fundamental vem da crise de 29, que ficou conhecida como a grande depressão. A crise na verdade é uma crise financeira que assolou grande parte do mundo e teve resultados catastróficos para os países que se utilizavam da bolsa de valores de Nova York. Existem alguns estudos e reportagens que afirma que a taxa de suicídios dessa época aumentaram devido a falência de várias pessoas em todo o pais.
Logo eu tento com a cena provocar o público com cenas fortes, que fazem contraste a uma narração calma enquanto existe uma música um tanto apressada no fundo, compondo um aglomerado de experiências visuais e sonoras que se distinguem e um tanto se repelem mas ao mesmo tempo casam para a narrativa, que tem o intuito de alertar sobre a saúde mental de algumas pessoas em tempos de crise.

Estudar teatro nas restrições sanitárias impostas pela pandemia do coronavírus se tornou um desafio para os artistas da cena a se reinventarem. Finalizar uma graduação desta maneira vai do sentimento de angústia a satisfação. 
           Descobrir maneiras de fazer teatro isoladamente é esquizofrênico para um ator, precisamos ser visto e com isso foi pensado para essa realidade em que cada um faz sua parte no seu lugar, no componente curricular Montagem Teatral, foi resolvido elaborar cenas curtas individuais/ou não,  com base no livro de Matéi Visniec, intitulado O Teatro decomposto ou o homem lixo com as inquietações que cada um estivesse sendo atravessado.
          Fragmentos foram escolhidos, e a cena o corredor partiu do princípio de que nada pode ser atrapalhado,  nada fica no meio do caminho, é fácil ultrapassá-los. Um corredor surge, em sua rotina  vê pessoas passando de um lado para o outro e questiona a ausência mesmo presente.
          Sua ação é correr, correr para que o tempo não capture as suas angústias, correr no isolamento é correr sozinho no corredor  da satisfação de um processo acreditado. Acreditar que no fim do corredor vai ter a solução é correr contra o tempo. Corra para que tudo aconteça. Corra para que não te peguem, corra da polícia, corra com a ciência, corra com a vacina,  corra ou morra.

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Juli          Da
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De fato, acho que essa matéria é com certeza uma das mais esperadas no curso, não só para mim, acredito que para a grande maioria. Então falando por mim de início achei bem chato saber que nós faríamos online, fiquei bem desmotivada com a ideia enfim. 
Começou o processo, as propostas, os primeiros vídeos a serem gravados, e fui me animando um pouco, entrei para o grupo de mídias e desde então participo desse bastidor que são esses momentos organizacionais que são as minhas partes favoritas, nesse momento fui me animando, até ser construída a estética, os vídeos e áudios começarem a serem editados. Pensei “bem, não temos o que fazer, nossa montagem vai ser online e não outra opção”, então porque não se animar? Não se doar como se fosse presencial? Infelizmente não estou me doando como eu queria, pois desde o início da pandemia que trabalho e esse trabalho tem sido bem exaustivo. O meu processo foi cansativo, pois como acordo cedo todos os dias foi puxado fazer as cenas de madrugada, moro numa avenida principal e aqui toda hora passa carro, mesmo que seja de madrugada, então eu escolhi o horário de 3:00 / 3:30 para começar a gravar pois é a hora que menos tem carro na rua. 
No entanto, apesar de estarmos fazendo um trabalho em grupo, sozinhos, os trabalhos ficaram muito bons apesar das condições de todos, minha turma está de parabéns e nossa apresentação vai ser um sucesso, mesmo que ninguém goste, eu vou considerar o meu sucesso e a minha turma por ter concluído essa etapa de forma tão unida como foi o trabalho desde o início. 

O experimento de uma montagem remota, que se deu por necessidade de sobrevivência humana e da arte, se tornou uma possibilidade de criação cênica e interação criativa. A ideia de um game disponibilizando diferentes desdobramentos de acordo com as escolhas do espectador é desafiadora, mas também rica em possibilidades múltiplas. 
Construímos a partir do texto “Teatro Decomposto ou O Homem-Lixo” de Matéi Visniec, com cada artista estudando um fragmento que melhor lhe coubesse. Em dupla com Quelen Fesansi selecionei o fragmento O homem através do espelho e criamos juntas a cena que contribui para esse experimento online. 

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Már       Ceni
cia         ra
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Falar deste processo é algo muito complicado, totalmente sem recursos, sem estrutura, muitos questionamentos e incertezas. Este processo de criação foi bem atípico, uma disciplina que normalmente tem inicio a partir dos estudos iniciados em encenação teatral uma disciplina anterior pré-requisito já não estava ali presente para nós, pois todos estamos cursando ambas disciplinas em conjunto. Disciplinas processuais que dependiam uma da outra e agora são executadas juntas o que já nos deixa bem apreensivos e inseguros. Confesso que no inicio dos estudos eu não vi ainda muito bem que havia futuro para este projeto e até cheguei a desacreditar, costumo ser muito perfeccionista o que me atrapalhou bastante, pois sem recurso não conseguia desenvolver o que eu tinha em mente a partir do texto escolhido. O texto escolhido já foi trabalhado anteriormente por mim em uma oficina de atuação ministrada pela Lygia Del Picchia no SESC Campos, o que foi essencial para mim, pois me lembrei de toda preparação de corpo e técnicas teatrais para as montagens feitas durante a oficina. O texto em si escolhido por mim “A louca Lúcida” ainda não tinha feito, nem na oficina e nem em nenhum outro lugar, mas como os textos são interligados de alguma forma e eu já tinha Trabalhado um dos seus antecessores “A Louca Tranquila”. A construção da cena foi toda pensada em cores fortes que remetessem ao momento que era vivido no enredo dão texto. Optei por uma montagem áudio visual justamente por não ter recursos para cena e voz ficarem juntos. Realmente foi muito difícil fazem este processo sozinha e sem poder partilhar a vivencia, o memento, pedir ajuda e ajudar ninguém, mas foi tudo conforme o possível

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Ao ler o capítulo juntas, percebemos uma ar de preocupação e ansiedade entre as personagem, na qual acarretava em conflitos entre elas. Existia um desejo na personagem 1 que era que a 2 enxergasse o que ela estava vendo e ouvindo. Outro ponto é a preocupação de fugir de um lugar desconhecido, escuro e sombrio. Entendemos, nas entrelinhas, que existia uma incompatibilidade sensorial e sonora entre elas. Com isso, para criação da cena pensamos no primeiro momento em fazer personagens cegas, levando essas questões de não conseguirem identificar o lugar onde estão e não conseguirem enxergar as luzes. Depois analisamos novamente o texto e vimos que poderíamos trazer esse conflito sem elas serem cegas. Então pensamos na ideia de duas cúmplices fugindo de algum lugar que estavam presas, onde todos os planos começaram a dar errado. Dialogando com o texto buscamos trazer para a cena alucinação, confusão e conflitos internos e externos. A estética inicial foi fazer um lugar escuro, porém não nos atentarmos na iluminação, somente no figurino e local. Quando gravamos e apresentamos para a turma, percebemos que a iluminação da personagem da Quélen era uma luz branca e a da Nadine amarela. Nas considerações a professora Mônica achou interessante a iluminação da Quélen, então trouxe a ideia de usar iluminação branca. A turma adotou a ideia e decidiu fazer todas as cenas em preto e branco

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Qué        Fesan
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Um desafio desde o começo. É assim que defino a experiência de passar por esse processo da disciplina montagem teatral no contexto da pandemia. Não tenho intimidade com a câmera enquanto ferramenta, tendo zero relação ou habilidade com o processo de criação audiovisual. Um dos motivos de me interessar pelo teatro é a efemeridade do ato, o fato de que um acerto não fica registrado, mas o erro também não, apenas a memória. Não posso assistir um filme da minha memória, nem observá-lo com calma para avaliá-lo, se eu quiser fazer melhor no teatro, o farei da próxima vez que subir ao palco. Com o audiovisual é diferente.
Não há espaço em casa, não há uma caixa preta. A bagunça é esteticamente desorganizada demais para servir como cenografia, encontrar possibilidades de figurino sozinho em meio a pandemia e sem verba nenhuma destinada a isso enquanto se pensa em como fechar as contas do mês é tarefa difícil. O Instituto Federal Fluminense é uma mãe às vezes, se comparado a outras instituições de ensino superior no que tange a assistência estudantil. No entanto, presencial ou remotamente, levantar um espetáculo teatral (ou audiovisual) do zero sem nenhum suporte institucional além da dedicação dos professores é uma tarefa hercúlea, principalmente no período em que estamos.
Ainda assim, trabalhando com o mínimo do mínimo - um celular, uma parede clara, um conjunto de maquiagem e uma blusa preta, produzi a cena que está no espetáculo buscando trabalhar de forma estética as relações que estabeleci com o texto de Matei Visniec. Passamos muito tempo procurando uma plataforma que suportasse a nossa ideia, em que pudéssemos trazer para a vida a proposta, e, mais uma vez, esbarramos na questão econômica. Buscamos, dentre as nossas possibilidades, a melhor alternativa e trabalhamos com a criação de um site simples que servirá de plataforma de exibição e, posteriormente, como registro. É isto.

Na     Bri
ni      to

Em uma experiência de montagem a distância eu posso dizer que ela te coloca fora do eixo, te leva a lugares que talvez presencialmente você não chegaria e é em muito enlouquecedor.
   Partir de uma prática do presencial para o virtual toma proporções gigantescas e o primeiro embate se da na confecção do vídeo que em muitas questões se difere da cena ao vivo. A repetição por inúmeros fatores traz as vezes uma exaustão física e mental, ainda mais quando se tem que preservar o isolamento social por conta da pandemia do novo corona vírus, o colocar-se em um loop de infinitas gravações por conta de que hora a iluminação não ficou boa, ora o ângulo, são infinitas barreiras que foram atravessadas a arte que antes se fazia no coletivo hoje me encontra em um ambiente solitário.
   Não tenho mais a presença de um coletivo presencial para desenvolver um trabalho, encontro-me em um lugar estranho, fora da rotina. Adentrar em um ambiente não tão explorado que é o da produção audiovisual de pensar a cena neste lugar não habitual te força a busca por novos saberes, o que é positivo, mas em meio ao momento também é desgastante.
O texto trabalhado a montagem proposta em muito expressa meu sentimento durante o processo, é um corpo decomposto e assim me encontro, em partilha, em fragmentos que muitas das vezes não se encaixam, porém se organizam da melhor forma, desafiante o lugar que ocupei nesse processo, e o que mais afeta é a falta da presença de modo a não ser a virtual.

Ta       Lini
 les        cker
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Realização

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